12 novembro 2012

CIÊNCIA & CONSCIÊNCIA ANIMAL

Descoberta aquece debate*

O grau de humanização de uma sociedade pode ser
medido pela forma como nela são tratados os animais


   
As confusões reinantes no planeta por conta de guerras e crises financeiras tiraram de foco um importante manifesto lançado, há duas semanas, por neurocientistas, alertando para confirmações de pesquisas que apontam a existência de graus de consciência —mais do que os suspeitados— em animais. As implicações de tais resultados poderão revolucionar a forma como os humanos veem e se relacionam com os animais.

A prova de que não se trata de sensacionalismo está na respeitabilidade de instituições envolvidas na pesquisa – tais como os institutos de tecnologia Caltech, MIT e Max Planck. A eles pertence o grupo de neurocientistas responsável pelo manifesto no qual se afirma que o estudo da neurociência evoluiu de modo tal que não é mais possível excluir mamíferos, aves e até polvos do grupo de seres vivos que possuem consciência. 

A declaração está sendo encarada como um possível marco divisor na forma como o pensamento filosófico e o pensamento político encararam a questão dos animais até agora.

Tais conclusões reforçam a luta pelos direitos dos animais. O racionalismo ocidental havia quebrado a respeitosa visão originária das antigas tradições em relação aos bichos. No entanto, no próprio Ocidente, a evolução da doutrina dos direitos fundamentais levou à incorporação também de outros seres vivos, além dos humanos. 

Hoje, não é possível conceber o Estado Democrático de Direito sem incluir uma legislação protetora dos animais. É a base para se combater a crueldade contra eles.

Por isso, o grau de humanização alcançado por uma sociedade pode ser medido também pela forma como nela são tratados os animais. O combate à crueldade deve ser feito não só pela repressão, mas, sobretudo, pela educação. 

Em certas áreas rurais, por exemplo, considera-se natural a tortura empregada por crianças e adolescentes contra animais silvestres e domésticos. Isso embota a qualidade da compaixão e cria as condições psicológicas para a violência contra o próprio ser humano.

Que esta nova descoberta da ciência sirva para remover tal deformação cultural e melhorar a legislação e as formas de tratar os animais, inclusive, os meios de abate dos que são sacrificados para servirem de alimento ao bicho homem. Até que um dia, quem sabe, o próprio abate possa ser dispensado para sempre.


(Editorial publicado em www.opovo.com.br)
(imagem em petshopandmore.com)



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