01 fevereiro 2013

AME-O OU DEIXE-O!!!

(meu Brasil brasileiro)
De Amadores & amadores*








E lá vou eu palestrar mais uma vez para uma grande empresa, mais de mil pessoas na platéia. Chego ao maravilhoso teatro com três horas de antecedência, para não dar margem a erros, e vou direto testar o equipamento. 

Começo a ficar preocupado quando vejo a quantidade de gente da "equipe técnica". Garotos e garotas, felicíssimos com seus intercomunicadores. A cada pergunta, um "isso é com o fulano", "isso é com a fulana"... e chama no rádio. 

Tenho que esperar o teste da orquestra, que atrasou. O tempo passando, e nada. Quando me chamam, pedem desculpas, mas só o som poderá ser testado, pois estão com um problema no projetor etc e tal. Falta pouco mais de uma hora para o início do evento. Faço o que é possível e, sem testar a imagem, me retiro para o camarim onde fico sozinho, lendo, num estado zen, me preparando para arrasar.

Eu estava trabalhando neste texto quando aconteceu a tragédia de Santa Maria. Acho que esta reflexão ganha mais importância ainda.

Começa o evento, eu ouvindo o som abafado, e a coisa vai atrasando. Quarenta minutos de atraso e soltam a turma para o café. Eu entro depois do café. Uma menina esbaforida vem me chamar, estão precisando de mim no palco. Vou correndo. O computador não compartilha a imagem com o telão. Eu arrumo. A imagem está distorcida. Eu mexo nas configurações e nada muda, é claro que o problema é no projetor. E então ele vem... O técnico. 

Amador. Um garoto com seus 27 anos de idade. Eu olho de longe e o vejo chegando até meu laptop com dedos de ogro. Frio no estômago. E lá vai ele, mexer nas configurações como eu havia feito. Não adiantou eu dizer que já havia feito, ele faz de novo. E não resolve. Chamo o chefe dele. 

Amador. Mostro o problema, dou a dica do que pode ser e então vejo a expressão de “numsei”. Vou reduzindo o ritmo e volume da fala aos poucos, diante da expressão que deixava claro que nem o técnico, nem o chefe do técnico sabiam como arrumar a encrenca. 

Eram amadores. E o café terminando. Não há tempo de fazer mais nada. Meu “estado zen” foi pro saco.  Resultado: a palestra no evento milionário, com iluminação milionária, cenário milionário e equipe milionária, tem uma projeção de merda.

Eu sou um amador em tudo o que faço. Palestro como um amador, escrevo como um amador, produzo meus vídeos como um amador. Mas amador não no sentido pejorativo e sim no de que amo o que faço. Faço com amor. 

Com paixão. E quem ama uma coisa, quer saber mais sobre ela, se aperfeiçoar, aprender, melhorar. Até virar amador profissional...

É impressionante a quantidade de amadores que encontro que, de posse de ferramentas ou métodos, se acham capazes de cumprir qualquer tarefa. Não é assim. Ferramentas e métodos nas mãos de quem não sabe o que fazer com eles são mais que inúteis. São perigosos. 

E vira-e-mexe me pego discutindo com o amador, o sabe-tudo, sobre um problema que já enfrentei antes. Mas sabe como é, não sou o técnico...

Quando o amador é consciente de sua ignorância e tem a humildade de ouvir as sugestões de alguém que pode, veja bem, eu disse pode, dar alguma luz, é possível transformar um problema em aprendizado. 

Mas quando o amador não tem consciência – e às vezes se orgulha!  de sua estupidez, só existe conflito. E de quando em quando, uma tragédia.

O Brasil é a República dos Amadores. Daqueles.



*o jornalista Luciano Pires é um observador atento 
da fuleiragem que ronda & assola o País, como 
mostra no livro Brasileiros Pocotó e no seu Melô do 
Pocotóaproveitando uma levada jamaicana relida em
1956 pelo showman norteamericano Harry Belafonte

SAIBA MAIS
www.portalcafebrasil.com.br

www.youtube.com/watch?v=Lk3arpNy0tQ




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