06 março 2013

PROBLEMA GLOBAL

Relatório da ONU diz que 
substâncias psicoativas 
ameaçam saúde pública*

Segundo a JIFE-Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, 
o problema pode ser visto em emergências de hospitais; somente na 
Europa, uma nova substância é descoberta a cada semana



Informação à população e preparo de pessoal da área médica são paliativos recomendados


As chamadas "drogas legais" ou "designer drugs" estão representando crescente e impactante ameaça à saúde pública. A constatação é de um relatório das Nações Unidas, divulgado nesta terça-feira (05/03) em Viena, na Áustria

De acordo com um estudo da JIFE-Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, realizado em 2012, o mundo está sofrendo com a proliferação de substâncias psicoativas, que têm levado a um aumento do número de ocorrências em emergências hospitalares e outros centros de tratamento.

Tranquilizantes
A JIFE também ressalta o que chamou de "abuso de medicamentos e farmacêuticos", como tranquilizantes e estimulantes. Somente na Europa, uma nova substância é descoberta a cada semana. A compra é facilmente realizada pela internet, e o número de sites que vendem psicoativos mais que quadruplicou em dois anos na União Europeia.

De acordo com a JIFE, os países precisam estruturar uma ação coordenada para impedir a produção, uso e tráfico dessas substâncias.

Em entrevista à Rádio ONU, da Costa Rica, o especialista da Agência Mundial Antidoping (WADA) no Brasil, Eduardo de Rose, falou sobre o envolvimento das policias federais e ministérios de Saúde no controle de vendas pela internet:

"O risco é de saúde pública. Deve haver um controle pelo Estado da venda desse tipo de substâncias para a população. A venda pela internet é de área internacional, ilegal e deve estar controlada pelo Estado. Como para pessoas físicas ou instituições de Direito não governamental é muito difícil fazer o controle desse tipo de venda, às vezes a questão  também entra numa área de drogas sociais proibidas", referiu Rose.

De acordo com o relatório, em alguns países pesquisados mais de 6% de alunos do Segundo Grau já tomaram tranquilizantes. Para a JIFE, é preciso agir preparando pessoal da área médica e informando a população sobre os perigos que este tipo de droga representa.


Inexiste controle efetivo sobre a venda de diversas substâncias 


Riscos
Os riscos são variados, incluindo doenças como HIV e hepatites B e C, no caso de uso de drogas injetáveis.

O titular da JIFE, Raymond Yans, disse que este é um problema global, que deve ser combatido de forma partilhada pela comunidade internacional. Segundo ele, é hora de agir em todos os níveis, incluindo o comunitário, para reduzir o sofrimento de todos.

Ao abordar a situação das drogas por regiões, o estudo da JIFE lembra que, na América do Sul, o consumo de cocaína, por exemplo, se manteve estável, com uma média de consumo por adultos de 0,7%. Já no Brasil, esta média é mais do que o dobro, atingindo 2%.

México, 60 mil mortos
O tráfico de drogas também está afetando a segurança regional, com o aumento da violência relacionada à distribuição ilegal de várias substâncias.

No México, por exemplo, mais de 60 mil pessoas foram assassinadas desde 2006 por causa do tráfico de drogas.

A América do Norte continua sendo o maior mercado de drogas ilícitas no mundo. Uma em cada 20 mortes de pessoas entre 15 e 64 anos na América do Norte tem a ver com o abuso de drogas.

Brasil
Segundo o relatório, o Brasil -- ao lado de outros países como Argentina, Índia, Grã-Bretanha e Paquistão -- teria perdido o prazo de entrega dos dados estatísticos sobre substâncias psicotrópicas em 2011. Os especialistas lembraram que esses países são importantes produtores, exportadores e importadores de drogas.


Cocaína apreendida


Cocaína apreendida
Ainda em 2011, nove das grandes 14 apreensões de cocaína foram feitas no oeste da África. Quase metade da cocaína escondida em contêineres, transportados pelo mar, era proveniente do Brasil.

Segundo a JIFE, devido à posição geográfica com um litoral extenso, o Brasil tem dificuldade para implementar e fortalecer as leis contra o tráfico de drogas. Porém, a entidade aponta que o governo brasileiro tem se esforçado para combater o tráfico, utilizando aeronaves de segurança, contêineres e scanners.

Reabilitação
Os especialistas da ONU notaram ainda os esforços brasileiros para prevenir o uso de entorpecentes e estabelecer redes de reabilitação e tratamento. A Junta afirmou que os programas devem ser levados também ao sistema prisional. E lembrou que o País tem um problema grave com o abuso do crack.

As apreensões no Brasil da chamada cannabis herbácea aumentaram 12% no ano passado, se comparadas às operações de 2011. No total, foram 174 toneladas.

Já as apreensões de cocaína, em forma de sais, caíram em vários países sul-americanos, incluindo o Brasil.  A polícia brasileira apreendeu no ano passado 24,5 toneladas de cocaína em forma de sais e base, e mais da metade vinha da vizinha Bolívia. No geral, a prevalência do uso de cocaína na América do Sul permaneceu estável, em torno de 0,7%. Já no Brasil, esta média sobe para 2%.


Combate ao tráfico ilegal de drogas

Drogas Sintéticas
O UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime) está preocupado com o aumento de drogas sintéticas em toda a América do Sul. Somente no ano passado, o Brasil apreendeu 259 mil comprimidos de ecstasy, 170 mil anfetaminas e 48 mil metanfetaminas.

O abuso de produtos farmacêuticos, tipo tranquilizantes e estimulantes, é classificado como um problema pelos especialistas. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo mostra que 7% dos brasileiros entre 19 e 59 anos já fumou maconha pelo menos uma vez, e mais de 60% deles antes de completarem 18 anos. 

Dos usuários de cannabis, 37% são considerados viciados. A legalização da maconha continua recebendo a oposição de três quartos da população brasileira.

Ainda na região, a JIFE mostrou-se preocupada com a notícia veiculada em agosto passado, de que o governo do Uruguai havia apresentado um projeto de lei ao Congresso para legalizar a produção e venda de cannabis no país, e o governo, neste caso, se encarregaria de regular as atividades de produção, venda e importação.

*por Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York


(apresentação de áudio: Edgard Júnior)
(fotos: UNODC; PNUD /Brain Sokol)
(conteúdo publicado em www.unmultimedia.org)



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