17 janeiro 2021

Os afogados pelo Estado

  (conteúdo publicado por Juliana Diniz em 16/01/21 em https://mais.opovo.com.br/)


 Imagem em: www.luso-poemas.net/

Olá. Estamos nos equilibrando pelo dezesseis do um de vinte e um: nesse cenário mundial, o que as pessoas pensam? 

Dia “D”, hora “H”? O que seria isso? E o que eu penso? Com (e sem) meus botões? 

Pensando nisso, venho refletir o pensamento da professora Juliana Diniz, escrito à base de angústia, e que reflete com total rigor e verossimilhança a porra da realidade, tá ok?

“Eu senti muita dificuldade de dormir à noite depois de ouvir o relato de médicos, enfermeiros e familiares em Manaus, numa busca desesperada pelo oxigênio que permite aos doentes de Covid respirar. “Por favor, por favor, acabou o oxigênio”. “Façam alguma coisa, pelo amor de Deus”. Um diretor de hospital liga aos prantos para um procurador da República, que relata ao jornalista do jornal O Estado de S.Paulo o cenário inexplicável – as autoridades permitiram o colapso do sistema, ao deixar faltar um insumo fundamental: o ar. Pacientes de unidades inteiras, morrendo em agonia por asfixia. Sessenta bebês prematuros, à espera de transferência para outro Estado.

Uma tragédia previsível, e, por isso, evitável.

Tentar vislumbrar o que acontece no interior dos hospitais amazonenses é um convite ao assombro moral e ao desespero, e nos aproxima dos medos mais primitivos que alimentam o instinto de sobrevivência – o medo do fogo e da água. Porque a morte por asfixia por falta de oxigênio é como afogar-se, uma morte em sofrimento, testemunhada pela impotência dos que, ao lado, nada podem fazer senão chorar ou, num gesto igualmente desesperado, aplicar morfina para amansar a angústia da morte.

Como podemos dar conta do desespero de testemunhar uma tragédia humanitária de tamanha proporção? O que seria possível para nós, os impotentes, fazer diante do sofrimento imenso dos que padecem em Manaus?

Para responder a essa angústia, vou às linhas do escritor italiano Primo Levi, um dos sobreviventes do holocausto. Após ser libertado de um campo de concentração, Levi dedicou-se a escrever sobre a memória do horror, sobre o trauma da guerra. Um de seus livros mais pungentes tem por título Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades e nos apresenta o dever ético que tem uma testemunha da História, o dever de registrar e manter vivo o passado. É esse testemunho que nos permitirá elaborar responsabilidades.”

( Para continuar a ler o mais que oportuno texto “Os afogados pelo Estado” da Doutora em Direito e professora da UFC Juliana Diniz, acesse :
https://mais.opovo.com.br/jornal/opiniao/2021/01/16/juliana-diniz--os-afogados-pelo-estado.html -- sendo o mesmo "material" de “acesso exclusivo de assinantes” do jornal)

A leitura porém se impõe, pois acontece à autora contextualizar à perfeição o antedia em que a ANVISA “aprovou” a utilização emergencial de produtos para a vacinação dos brasileiros.

Pense.

E como o pensamento é uma rede que não descansa, e liga fios, ligou aqui também:

SUFOCO (soneto por Marlene / de Lisboa, Portugal)

Como me corrói este desejo,
Esta vontade de querer gritar,
De não conseguir mais suportar,
Sem dizer, sem contar o que vejo.

Como é que poderei alentar,
Ao participar neste cortejo,
Vestir-me de palhaço, parar,
Não ouço mais risos, não gracejo.

Como podes meu sangue despejar,
Corpo indigno, eu te antevejo,
Pairo, fico sem o bafo entrar!

Pescoço esguio, ar almejo!
Já não há soprar, para me poupar,
Um simples sufocar que traquejo...
                                   
                                                                                 Ghost
 (
Marlene)


Leia mais sonetos em: 
http://ghostofpoetry.blogspot.com


O que temos sobe a Terra? Além da esperança, a poesia... God bless us all...



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