08 outubro 2008

OLHAR CARICATURISTA

Mendez faz 100 anos


A exposição Mário Mendez - O mestre da caricatura, apresentada no Espaço Cultural Correios (Centro de Fortaleza/CE) pelo Núcleo ArtZ, comemora o Centenário de um dos maiores artistas cearenses, reconhecido entre os seus pares brasileiros pelo traço inconfundível e pela herança deixada a gerações de caricaturistas.

O artista, que colaborou para o sucesso de várias publicações, hoje é pouco lembrado no Ceará. Na exposição, seu traço elegante passeia entre encantadoras caricaturas de políticos, músicos, pintores e outras personagens de sua época, produzidas ao longo de sua carreira de quase 70 anos. A mostra traz ainda ilustrações, pinturas e fotos de sua autoria.

O evento tem curadoria do ilustrador e poeta Klévisson Viana, responsável pela vinda de Mendez à capital do Ceará em 1992 para ser homenageado no I Salão Nacional de Humor de Fortaleza. Mas quem foi Mário Mendez?

Nascido em Baturité em 1907, Mário de Oliveira Mendes, o Mendez, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 17 anos. Sua carreira artística teve início com a publicação de sua primeira caricatura na Revista Musical, em 1.º de julho de 1927. A partir de então, passou a colaborar com diversos jornais e revistas, entre eles A Noite, Folha Carioca, Revista do Rádio, Radiolândia, Revista da Semana e O Cruzeiro, contribuindo para o seu sucesso.

Mendez destacou-se por seu traço preciso, facilmente reconhecível, que se tornou sua marca de humor irreverente, despertando a satisfação de alguns e causando incômodo a outros dos seus caricaturados. Certos personagens temiam tornar-se o seu próximo “alvo”. O cantor Orlando Silva, por exemplo, tentou impedir a publicação de sua caricatura, na qual figurava com cara de carneiro. Em vão: Mendez argumentou que “caricatura não humilha ninguém. Ao contrário, enaltece”.

Por outro lado, o artista agradava a figuras como Getúlio Vargas, Ângela Maria e Cândido Portinari. A caricatura de Getúlio criada por Mendez inclusive participou, garbosamente, da campanha eleitoral que conduziu o gaúcho à Presidência da República pela segunda vez (1951-54).

Ao final de sua trajetória profissional, o cearense dedicou-se também à pintura, admitindo ter sempre feito ensaios com os pincéis, no retrato, na paisagem ou na figura. "Minha pintura não está ligada a nenhuma escola. Faço o que sinto e o que gosto de fazer. O que faço é por intuição", afirmou. Sua produção foi interrompida apenas pela morte, em 1996, aos 90 anos.

Núcleo ArtZ:
Em sua notável iniciativa de resgate dos grandes nomes do desenho cearense, os produtores Weaver Lima e Franklin de Oliveira, do Núcleo ArtZ, com esta exposição sobre Mendez dão continuidade ao trabalho que realizou, em 2007, no CCBNB-Centro Cultural do BNB, exposição em homenagem ao Centenário do cartunista Luiz Sá.


CHEGUE JUNTO
Mendez – O Mestre da Caricatura, de 9 de outubro a 22 de novembro
Espaço Cultural Correios - Agência Central de Fortaleza/CE
Rua Senador Alencar, 38 - Centro
Produção: Núcleo ArtZ
http://nucleoartz.blogspot.com

*Na imagem, a autocaricatura do artista contempla um painel de personagens em seu traço característico


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Mário Mendez, um traço calado
Mendez nasceu em Baturité, Ceará, à zero hora do dia 25 de dezembro de 1907. Chegou ao mundo causando maior confusão, pois a única parteira da cidade assistia à Missa do Galo. O pai, apavorado, entrou às pressas na igreja e arrastou-a para casa. O dia festivo quase carimbou-lhe o nome de Natalino. Mas o pai -- José Mendes de Brito Arraes -- voltou atrás.

Seja como for, a mudança de nome deve ter marcado o menino, pois mais tarde alteraria o "s" do sobrenome por "z". Durante a infância, interessou-se pelo desenho e passava horas copiando caricaturas de J.Carlos, Kalixto e Storne. Cresceu com a arte nas veias e punha isso em prática vendendo bonecos e cartões pintados por ele mesmo. Era simples: montava uma barraca em frente à igreja da cidade para onde se havia mudado (Carutapera/MA).

Certa vez, já morando em Iguatu/CE, precisando de grana, pegou um serviço para pintar o nome de uma mercearia na parede. Preparou a tinta com anil e goma arábica. Ele conta: "Naquela região já não chovia há muito, mas dei azar; choveu durante a noite, levantei de madrugada, ainda escuro e fui olhar os letreiros. Que calamidade! A frente da mercearia estava em petição de miséria, já não se lia o letreiro. A frente da casa estava toda borrada de azul. Não esperei mais nada. Fui à casa de outra tia onde estava hospedado, enfiei algumas roupas numa valise e corri para a estação; comprei uma passagem e peguei o primeiro trem para Fortaleza".

Foi na capital cearense que teve o primeiro contato com a pintura. Mostrou alguns desenhos ao dono do atelier -- Manoel Queirós -- e foi pego como ajudante, sem ganhar nada. Assim seguiu, até que apareceu um tenente da Marinha querendo um cartaz para convocar voluntários. Mendez, que sonhava em viajar, ofereceu-se. Disse que tinha 18 anos (quando tinha 17) e, com essa idade, desembarcou no Rio de Janeiro.

Serviu na banda de música do regimento. Certa vez, fez a caricatura do regente da banda e mostrou-a ao tenente. Logo o desenho saiu na Revista Musical. Era o início de sua carreira de caricaturista. Três anos depois, foi convidado para fazer ilustrações de Carnaval para o jornal A Manhã. Foi um sucesso, e Mendez acabou efetivado.

Também colaborava com os jornais A Batalha, A Esquerda, Vanguarda e o Radical. Os caricaturistas da época eram Kalixto, Romano, Guevara, Raul Pederneiras, Justinus e Figueroa (que muito influenciou Mendez). Envolvendo-se com esses artistas, acabou conhecendo Luiz Sá, conterrâneo que fazia histórias em quadrinhos da série Reco-reco, Bolão e Azeitona para as revistas O Tico-Tico e O Malho.

Foi incentivado por Raul Pederneiras, que fazia Cenas da vida carioca para a Revista da Semana e publicava sátiras no Jornal do Brasil. Artistas conhecendo artistas dão sempre uma história boa. Certo dia, quando almoçava numa pensão, viu um cara numa mesa e achou-o caricaturável, tirou um papel do bolso e desenhou-o. A dona da pensão viu e disse a Mendez que aquele cara era (o colega) J.Carlos. Mendez quase teve um treco. Seu ídolo desde a infância estava ali perto! A dona da pensão não perdeu tempo e apresentou Mendez a J.Carlos. Mendez tremia. Só se aquietou quando recebeu elogios do mestre sobre o seu trabalho.

Caricaturistas são debochados e ousados. Quando Mendez casou-se, em 1933, a notícia foi publicada no jornal -- porém, no lugar da tradicional foto, havia uma caricatura dos noivos! Em 1935, Mendez organizou uma exposição de desenhos feitos durante uma viagem à Bahia, Pernambuco e Ceará. No mesmo ano, publicou o livro Tipos e costumes do negro no Brasil.

Um ano depois, seus desenhos saíram na revista O Cruzeiro, despertando o interesse de Belmonte: o "monstro sagrado" da charge trabalhava na Folha da Manhã em São Paulo e convidou Mendez para trabalhar com ele. Em 1938, voltou ao Rio para trabalhar no jornal A Noite, junto com os "feras" da charge: Álvarus, Carlos Thiré, chargista e quadrinhista (criador dos personagens Gavião de Riff, Bob Lloyd, Rafles e Os Três Legionários da Sorte) e Monteiro Filho (que idealizou o personagem Roberto Sorocaba).

Mendez foi ficando famoso. Caricaturava figuras importantes da política e das artes brasileiras. Ele conta que Dalva de Oliveira chorou de desgosto durante uma semana quando viu sua caricatura na revista Carioca. Orlando Silva também ficou aborrecido com ele por ter sido caricaturado com cabeça de carneiro.

Isso não abalou sua carreira, nem sua fama. Em 1941, quando Walt Disney esteve no Rio, vários artistas foram apresentados a ele: J.Carlos, Luiz Sá, Jorge Bastos e... Mendez. Além de desenhar, Mário Mendez era preocupado com arte. Ele comentou: "O humor na caricatura brota espontaneamente. Ele vem só e naturalmente. Não o tentamos nunca... É conseqüência fácil... Se nos acharem rebeldes, não o somos voluntariamente. Rebeldia é fugirmos de uma norma, e como em caricatura não há normas, é absurdo sairmos de uma coisa que não existe. Quantos políticos não devem sua popularidade aos caricaturistas? E no entanto, muitos não gostam de ser caricaturados... Felizmente, não são todos."

Para a campanha de eleição de Getúlio Vargas, o PTB-Partido Trabalhista Brasileiro usou uma caricatura feita por Mendez. Além de Getúlio, Dorival Caymmi e outras personalidades famosas passaram pela ponta de seu lápis in loco: a primeira-dama argentina Eva Perón, o presidente norte-americano Harry Truman, o multiartista Burle Marx, o maestro espanhol Xavier Cugat.

Em 1973 Mendez foi entrevistado por Ziraldo, Nássara e Augusto Rodrigues para o Museu da Imagem e do Som. Sobre a caricatura, disse: "As melhores caricaturas sempre foram aquelas das pessoas com quem a gente convive, das quais podemos captar traços da personalidade que só notamos mesmo com a convivência. Pois como já foi dito, a caricatura é o retrato da alma... Eu acho que uma caricatura acertada, às vezes, vale mais do que uma fotografia. Na foto, as pessoas vão mudando de ano para ano, enquanto a boa caricatura retrata a pessoa durante anos a fio!".

A certa época de sua vida, Mendez abandonou o desenho. Aposentou-se! Mas a veia artística impulsionou-o à música. Trocou o lápis pelo violão. A esposa, Emília, vendo sua capacidade musical, sugeriu que entrasse numa banda. Mendez pensou, pensou e desistiu, largou o violão e voltou ao desenho...

Artista nato e autodidata, Mendez não teve professor nem fez curso algum. Aprendeu tudo vendo, observando e comparando. A caricatura foi sua profissão, meio de expressão e vida. Ele dizia "A gente nasce caricaturista, vira desenhista e morre pintor. Como exemplos, lembro Columbano (Bordalo Pinheiro) de Portugal, (Honoré) Daumier e (Henri de) Toulouse-Lautrec da França, (José Clemente) Orozco do México... e (Emiliano) Di Cavalcanti, que também começou a carreira como caricaturista."

Ele continuou: "Tanto a pintura como a escultura vêm do desenho. Hoje, há uma concepção diferente em relação a essa idéia, devido ao abstracionismo. Mas a pintura figurativa vem sempre do desenho. A cor é inerente. É uma questão de sentimento. Minha pintura não está ligada a nenhuma escola. Faço o que sinto e o que gosto de fazer. O que faço é por intuição."

Mário Mendez esteve ligado à caricatura e ao humor até o fim da vida. Caricaturou Chico Caruso e em1996 foi homenageado no Salão de Humor de Piracicaba. Mas o tempo neste mundo é curto para mestres e gênios... e o criador voltou ao Criador. O traço de Mendez calou-se no mesmo mês em que nasceu, 90 anos depois -- dezembro de 1997. Sua arte está registrada em duas obras editadas pela Ediouro: Caricaturas e caricaturados e Como fazer caricaturas.


* O jornalista e quadrinhista Fernando Moretti publicou este texto em seu blog Humor Vítreo

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http://www.aleph.com.br/moretti

IDÉIAS PREMIADAS

Valor ao que se inova


O Laboratório SESC Rio de Roteiros para Cinema Infantil, em parceria com o FICI-Festival Internacional de Cinema Infantil, selecionou os 10 roteiros que participarão do projeto em 2008 e nomeou os 10 consultores a eles associados. Entre os cinco roteiristas estrangeiros designados para vir ao Brasil, figuram renomados autores, destacados entre os mais atuantes do roteiro de cinema infantil contemporâneo.

O americano Michael Goldenberg roteirizou Harry Potter e a Ordem da Fênix, enfrentando o desafio de fazer uma adaptação do best-seller da inglesa J.K. Rowling sem perder o espírito do livro. Aos 43 anos, é co-roteirista de Where the wild things are, uma adaptação do livro infantil homônimo de Maurice Sendak que será dirigida por Spike Jonze.

O time de consultores tem ainda o francês Eric Rognard, com mais de 20 anos de experiência como roteirista para filmes infanto-juvenis na televisão européia, e a holandesa Mieke de Jong, roteirista dos premiados Spoon, de Sande Bakhuyzen, e Bonkers, de Martin Koolhoven. Seu último trabalho para o cinema, Winter in wartime, é uma adaptação do romance de Jan Terlouw, sobre um garoto na Holanda durante a 2.ª Guerra Mundial.

O dinamarquês Niels Arden Oplev e o norueguês Arne Lindtner Naess completam a lista dos consultores estrangeiros. Formado em direção cinematográfica pela National Film School da Dinamarca, Oplev fez dois filmes quando ainda era estudante e seu penúltimo filme Drømmen (We shall overcome, 2006) ganhou 16 prêmios, entre eles um Urso de Cristal, no Festival de Berlim, e o prêmio do júri infantil do Festival Internacional de Filme Infantil de Chicago.

Já o norueguês, ator, dramaturgo e diretor, roteirizou e dirigiu sete longas desde 2001, entre eles The Junior Olsen gang, um fenômeno de público em seu país natal.

Entre os cinco brasileiros que prestarão consultoria estão Cláudio Lobato, que escreve regularmente para a série infantil da TV Globo O sítio do picapau amarelo, e Maria Camargo, que passou pelo Laboratório SESC Rio de Roteiros com o roteiro infantil Noite de vaga-lumes.

Os outros três consultores são Claudio Galperin, roteirista do filme O ano em que meus pais saíram de férias, Eliana Fonseca, e Claudio Yosida, que também escreve para O sítio do picapau amarelo.

Os selecionados
Em 2008, o Laboratório recebeu 40 inscrições, a partir das quais foram selecionados os seguintes trabalhos: A fabulosa jornada de João e Maria, de Arnaldo Galvão e Flavio de Souza; A turma, de Ricardo Favilla; As peripécias de Pilar na Grécia, de Flavia Lins e Silva; Eu e meu guarda-chuva, de Adriana Falcão, Marcelo Gonçalves, Bernardo Guilherme e Toni Vanzolini; Historietas assombradas, de Daniel Turini e Vitor Brandt; Meninos do mangue, de Adolfo Lachtermacher e Roger Mello; Meu amigãozão, de Andrés Lieban e Claudia Koogan Breitman; O menino no espelho, de Cristiano Abud; Pedro e a cobra-de-fogo, de Tom S. Figueiredo; e Quem tem medo de fantasma?, de Sylvio Gonçalves, Cris D’Amato e Bruno Garotti.
MAIS CINEMA
E no cinema "adulto", o tradicional Laboratório SESC Rio de Roteiros para Cinema anuncia os 10 roteiros de longa-metragem de ficção selecionados para participar do Laboratório SESC Rio de Roteiros para Cinema deste ano (a ocorrer também no SESC Nogueira, em Petrópolis, de 25 a 28 de novembro).
Uma comissão formada por profissionais de cinema elegeu 10 roteiros entre os 165 inscritos. Os trabalhos escolhidos serão analisados por um time de 10 consultores brasileiros e internacionais, entre eles o roteirista americano Vondie Curtis-Hall, que veio ao Brasil para o Laboratório de 1998. Vondie roteirizou e dirigiu os filmes Na contra-mão (1997) e O acerto final (2006), além de episódios das séries Plantão Médico (ER) e Boston Legal.

Os roteiros selecionados são: Inferno provisório, de George Moura, roteirista do filme Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas; Cidade tóxica, de Rose Miranda; Cupuaçu, de Iana Cossoy Paro, que se formou em Cinema pela Escola Internacional de Cinema e Televisão, em Cuba; Éden, de Antonia Pellegrino e Bruno Safadi, que é um reconhecido diretor de curtas-metragens e estreou na direção de longas com Meu nome é Dindi; Identidade, de Maurício Arruda e do artista multimídia Tadeu Jungle; Intimidade indecente, de Rogério Gallo, que é diretor de televisão com passagens pela RedeTV, MTV, atualmente no Canal 21; Maresia, de Melanie Dimantas, Marcos Guttmann e Rafael Cardoso; Posto 9, de Bernardo Melo Barreto, ator da Rede Globo; Queda livre, de Ricardo Pinto e Silva, que tem longa carreira no cinema e já dirigiu os longas Sua excelência, o candidato e Querido estranho; e Umbral, de Tiago Teixeira, que é um renomado curta-metragista.

Originalmente realizados no Brasil em parceria com o Sundance Institute, os laboratórios organizados por Carla Esmeralda já promoveram o encontro de mais de 250 roteiristas brasileiros em nove edições, nas quais 88 roteiros receberam mais de mil horas de consultorias de profissionais especializados dos mercados brasileiro e internacional.


10 roteiros! 10 consultores!
>> LABORATÓRIO SESC RIO DE ROTEIROS PARA CINEMA INFANTIL 2008
Realização: SESC Rio de Janeiro, em parceria com o Festival Internacional de Cinema Infantil, com organização de Esmeralda Produções Cinematográficas
>> De 07 a 10 de outubro, no SESC Nogueira (Petrópolis/RJ)


*Imagem do filme Winter in wartime, da holandesa Isabella Films

SAIBA MAIS
www.festivaldecinemainfantil.com.br

08 setembro 2008

MAR QUE NÃO ESTÁ PRA PEIXE

Zeitgeist tropical


Você já ouviu o termo Zeitgeist? É alemão e a pronúncia é “tzaitgaist”. Adotado pelos filósofos românticos alemães do século 18 como uma tradução do latim genius (espírito guardião) e saeculi (do século), o termo foi popularizado pelo professor e filósofo (Georg Wilhelm Friedrich) Hegel (1770-1831, na ilustração ao lado) em seu livro Filosofia da História.

Zeitgeist é traduzido para o Português como “espírito do tempo”, significando –– em outras palavras –– o nível de avanço intelectual e cultural do mundo em uma época específica. De acordo com os sábios, Zeitgeist é a experiência de um clima cultural dominante que define uma era. Tentando simplificar: esse clima cultural é resultante das experiências dos indivíduos que compõem as nações que convivem numa determinada era. É o "espírito" daquela era.

Parece complicado, né? Deixa eu tentar de outra forma: anos atrás estive diante do desafio de criar uma campanha de motivação interna para a Dana, empresa na qual eu trabalhava. Havia um discurso muito bonito, calcado naquela história de visão, missão e valores, que dizia que a empresa era o máximo. Era honesta, consciente de sua importância no meio ambiente, socialmente responsável, focada na fabricação de produtos de qualidade etc etc etc. Igualzinho àquele texto que você lê todo dia em sua empresa.

No fundo, esses textos são apenas promessas que não têm nenhum valor até que alguém as cumpra. E nenhum papel colado na parede garante que qualquer promessa será cumprida. O cenário era aquele que encontramos na grande maioria das empresas: promessas feitas por meia-dúzia de cabecinhas, embaladas em papel de presente pelos caras do marketing e distribuídas ao mercado, enquanto as pessoas responsáveis pela entrega eram superficialmente comunicadas da promessa que havia sido feita.

No meio do processo de criação surgiu a luz, quando discutíamos um bordão batido: nós somos a Dana. Nós fazemos a empresa. O pulo do gato aconteceu quando invertemos a proposta: a Dana somos nós. Melhor ainda: a Dana sou eu. Esse passou a ser o mote da campanha, que trazia em si uma definição fundamental.

Quando dizíamos que “nós somos a Dana”, compartilhávamos a responsabilidade. Quando dizíamos que “a Dana somos nós”, considerávamos que a empresa seria a resultante do comportamento do grupo.

Mas com “a Dana sou eu” conseguíamos o desejado: a Dana só será uma empresa de qualidade se eu for um funcionário com qualidade. Só será responsável com o meio ambiente se eu for responsável com o meio ambiente. A Dana é o que eu decidir que eu sou. Ponto.

O Zeitgeist da Dana àquele ponto –– se fosse possível –– seria a resultante dos valores, convicções, atitudes e esforços de todos os seus 5 mil funcionários naquele momento. Seria o espírito daquela era.

Volto então ao nosso Zeitgeist: se pudéssemos ter a experiência de retornar no tempo, por exemplo, para o começo dos anos 1950, veríamos que o espírito de nossa era seria o de um País esperançoso pelo futuro, cheio de boas notícias, com obras para todo lado, títulos mundiais no futebol, no tênis, no boxe e no basquete e um Presidente que prometia fazer 50 anos em cinco. Havia um entusiasmo evidente, que “podia sentir-se no ar”.

Na segunda metade dos anos 1960 e durante os 1970, sentia-se no ar era um clima de preocupação, da mão pesada dos militares, da censura. Mesmo com o País crescendo, o espírito da época seria o espírito do medo.

Nos anos 1980 e começo dos 1990, o espírito da época era o da abertura. O Brasil descobria a democracia, votávamos para Presidente, acabávamos com a inflação e experimentávamos o começo do jogo da globalização. Eu diria que o Zeitgeist da época era o da perplexidade, como já escrevi em texto anterior.

E hoje? Qual é o Zeitgeist do Brasil? Sinceramente, não sei. Tentei aplicar aquele “o Brasil sou eu”, mas não deu certo. Nunca vi o País tão dividido, tão desigual. Pobres contra ricos, pretos contra brancos, índios contra não-índios, ignorantes contra educados. E piorando.

O espírito de nossa época será esse? O do confronto? Que pena.
Perderemos para nós mesmos.


*Pregando contra a mentalidade "pocotó" de nossa época, o jornalista Luciano Pires vai ainda à TV, ao rádio, ao Himalaia e ao Pólo Norte.


SAIBA MAIS
www.lucianopires.com.br

SUPERAÇÃO DETERMINADA

Triathlon brasileiro


O Campeonato Brasileiro de Triathlon 2008 está sendo disputado em 3 (três) etapas. A primeira foi realizada no dia 6 de abril em Vitória/ES. A segunda será promovida dia 21 de setembro no Rio de Janeiro/RJ, e a derradeira no dia 14 de dezembro em Salvador/BA.

Pelo sistema de pontuação da prova, todos os atletas pontuam em cada etapa, de acordo com a seguinte seqüência: 100, 85, 75, 70, 65, 60, 55, 50, 45, 40, 35, 30, 25, 20, 15, 14, 13, 12, 11 e 10 pontos, da primeira à vigésima colocação. Ao final das três etapas, cada atleta deverá descartar o seu pior resultado.

Como o descarte é feito sobre uma das provas de que o atleta participou, uma eventual ausência a uma das três etapas não permitirá o seu descarte. Portanto, caso o atleta tenha participado apenas de uma única etapa, ficará sem resultado pois exatamente este será descartado. A prova de Salvador servirá como critério de desempate.

A etapa do Rio de Janeiro será disputada no Parque do Flamengo e Av. Perimetral. A natação terá duas voltas, em percurso triangular. O ciclismo também terá duas voltas, utilizando-se o trecho que vai da área de transição montada na pista Sul-Centro (nas proximidades da Marina da Glória até as imediações da Rodoviária Novo Rio), na Av. Perimetral, com uma leve subida no início do elevado da Av. Perimetral.

A corrida, também em duas voltas, utilizará o trecho compreendido entre o Viaduto dos Estudantes (próximo ao Aeroporto Santos Dumont) e as proximidades do Morro da Viúva (à altura da Rua Dois de Dezembro) em percurso totalmente plano.

PROGRAMAÇÃO
No sábado dia 20 de setembro, um simpósio técnico será realizado às 18h00 no auditório do Hotel Golden Park, situado à Rua do Russel, 374. A entrega dos kits acontecerá antes do simpósio, no período de 15h00 às 17h30.

No domingo, o check-in acontece das 07h30 às 08h45 e exatamente às 09h00 será dada a largada para as categorias Elite, Sub-23 e Militares. Às 09h45 acontece a largada dos grupos de idade (Age Group). A cerimônia de premiação está prevista para ocorrer às 11h45.

PARTICIPANTES / INSCRIÇÕES
A prova é limitada a 350 atletas. As inscrições custam R$ 150 (Elite e Sub-23) e R$ 110 (Faixas de Idade e Militares). Todas as inscrições devem ser feitas através das federações de origem, e todos os atletas precisam ser federados e estar em dia com a anuidade de 2008.

PREMIAÇÃO
A premiação, em dinheiro, soma o total de R$ 8 mil a serem divididos entre os atletas das categorias Elite e Sub-23, de acordo com a seqüência de chegada como categoria única, sendo: 1.º) R$ 1.280,00; 2.º) 1.040,00; 3.º) 760,00; 4.º) 520,00 e 5.º) 400,00 (tanto no masculino quanto no feminino). Os cinco primeiros da Elite e da Sub-23 recebem troféus (total de 10 troféus), assim como os primeiros colocados em cada faixa de idade.

Os três primeiros da categoria Militar também recebem troféus. Da segunda à quinta colocação nas faixas de idade, serão oferecidas medalhas, e quem completar o percurso recebe medalha de participação. Boa prova a todo(a)s.

CLASSIFICAÇÃO APÓS A PRIMEIRA ETAPA (Vitória/ES)
Elite/Masc: 1.º) Diogo Sclebin/RJ (100 pontos); 2.º) Antonio Marcos da Silva/CE (85 pontos); 3.º) Guilherme Manocchio/SC (75 pontos); 4.º) Mauro Cavanha Conceição/PR (70 pontos); 5.º) Henrique Siqueira de Oliveira/DF (65 pontos).

Elite/Fem:
1.ª) Vanessa Gianinni/SP (100 pontos); 2.ª) Fernanda Garcia/SP (85 pontos); 3.ª) Suely Baronto Lima/RJ (75 pontos); 4.ª) Aglaé Menezes/DF (70 pontos); 5.ª) Julia Campos/RJ (65 pontos).

Sub-23/Masc:
1.º) Bruno Matheus/SP (100 pontos); 2.º) Marcus Vinicius Fernandes/SP (85 pontos); 3.º) Wesley Mattos/CE (75 pontos); 4.º) Adriano Sacchetto/MG (70 pontos); 5.º) João Alfredo Soares/SC (65 pontos).

Sub-23/Fem:
1.ª) Carolina Furriela/SP (100 pontos); 2.ª) Tatiane Pereira de Souza/BA (85 pontos); 3.ª) Thyciane Viegas de Oliveira/SP (75 pontos); 4.ª) Pamela Oliveira/ES (70 pontos); 5.ª) Carolina Mattos/RJ (65 pontos).

SAIBA MAIS
Federação de Triathlon do Estado do Rio de Janeiro
E-mail: RJ@triathlon.com.br
Tel: (21) 2554-9340 / (21) 7833-4475
www.triathlon.com.br

05 setembro 2008

CÂMERA & AÇÃO

Lugar de criança é no cinema



O 6.° FICI-Festival Internacional de Cinema Infantil apresenta uma seleção de 28 filmes nas salas dos complexos da Rede Cinemark em sete cidades brasileiras. A estréia acontece no Rio de Janeiro e Niterói, de 29 de agosto a 7 de setembro.

O Festival reúne títulos inéditos e clássicos, curtas-metragens nacionais e internacionais e animações feitas para a internet, além de oficina e debate. Realizado com exclusividade na Cinemark desde sua criação, o FICI estará também em Brasília/DF (de 5 a 14 de setembro), São Paulo e Campinas/SP (de 12 a 21 de setembro), Belo Horizonte/MG (de 19 a 28 de setembro), Salvador/BA e Aracaju/SE (de 26 de setembro a 5 de outubro).

Uma das novidades do FICI 2008 é a realização do Prêmio Brasil de Cinema Infantil. Sete curtas-metragens nacionais concorrem a R$ 5.000,00 em serviços de laboratório, oferecidos pela Labocine Grupo de Cinema. Além desta novidade, seis filmes internacionais têm dublagem ao vivo, para que o público mirim contate dois idiomas diferentes ao mesmo tempo, descobrindo assim semelhanças e diferenças.

No todo, os destaques são o filme sueco Píppi Meialonga nos Mares do Sul, inspirado no livro homônimo de Astrid Lindgren, sucesso da época em que os pais que hoje levam seus filhos ao cinema, eram crianças, e também a pré-estréia especial de Os mosconautas no mundo da Lua, animação em 3-D sobre três mosquinhas que viajam rumo à Lua.

A dramaturga Maria Clara Machado é homenageada nesta edição, por sua carreira dedicada ao teatro infantil. A adaptação cinematográfica de uma de suas obras mais conhecidas, Pluft, o Fantasminha (Romain Lesage, 1962) foi incluída na sessão Clássico Brasil, que exibe também o filme Roberto Carlos em ritmo de aventura, de Roberto Farias.

O FICI traz ao Brasil títulos inéditos e dublados de diversos países, na sessão Pré-estréias Internacionais. Aqui chama a atenção o filme holandês African Bambi, de Alan Miller, que mostra como vivem os antílopes — ou seja, mostra a história real dos animais que inspiraram Bambi, o clássico de Walt Disney.

Após a exibição deste filme, dentro do projeto O Pequeno Jornalista, um jornalista convidado promoverá um debate com o público infantil sobre os processos de criação de uma crítica, entrevista ou reportagem. No Rio de Janeiro, além do bate-papo com o jornalista, as crianças poderão entrevistar também o diretor Alan Miller. Outra atividade que propõe a participação das crianças é a Oficina de Cinema de Animação, que mostra algumas técnicas utilizadas na criação de filmes de animação.

O FICI exibe também sucessos da Disney-Pixar como Monstros S/A, Toy Story e Vida de inseto oferecendo uma nova chance ao público de assistir ao filme A família do futuro em 3-D, em salas adaptadas a esse tipo de tecnologia. Além deles está programada, em salas digitais, a animação As aventuras de Gui e Estopa, produzida pelo portal infantil Iguinho. Confira a seguir os filmes do FICI, com sinopses e outras informações.

PRÉ-ESTRÉIAS INTERNACIONAIS
>> African Bambi (Holanda, 2007, 77 min)
Direção: Alan Miller
Recomendação etária: A partir de 7 anos
Sinopse: African Bambi conta a vida de três jovens antílopes crescendo e se adaptando a um mundo selvagem. Esta é a verdadeira história de Bambi, com cenas de coragem, aventura, drama e amor, vividas por personagens reais, filmados no leste da África.

>> Um reizinho chamado Macius (Alemanha, Polônia e França, 2007, 87 min)
Direção: Sandor Jesse & Lutz Stützner
Recomendação etária: a partir de 4 anos
Sinopse: Antes de fazer nove anos, o rei, pai de Macius, morre e o menino deve assumir o trono. O general descobre que esta é sua grande chance de tentar virar rei. Macius percebe isto e resolve criar o reino das crianças.

>> Dois Mosquitos dançando no formigueiro (Dinamarca, 2007, 77 min)
Direção: Jannik Hastrup e Flemming Quist Møller
Recomendação etária: A partir de 4 anos
Dagmar, a mosquito bailarina, é louca por Egon, o mosquito ciclista, mas ele quer conhecer o mundo antes de pensar em amor. Os dois se envolvem num drama quando Dominela, rainha das formigas vermelhas, toma o formigueiro onde vivem.

>> Hugo, o tesouro da Amazônia (Dinamarca, 2007, 75 min)
Direção: Flemming Quist Møller e Jorgen Lerdam
Recomendação etária: A partir de 4 anos
Sinopse: Hugo é a mais rara e encantadora criatura do mundo. Por isso, o Prof. Strix quer cloná-lo e vender suas cópias. Hugo é esperto e tem bons amigos, como Rita, a raposinha, mas será que consegue escapar dos caçadores e encontrar um lugar para viver?

>> Max & Companhia (Suíça, França, Reino Unido e Bélgica, 2007, 77)
Direção: Sam & Fred Guillaumemin
Recomendação estária : A partir de 10 anos
Sinopse: Max não conhece seu pai e vai para uma pequena aldeia procurá-lo. Quando um executivo e um cientista chegam à aldeia, a vida lá se modifica e corre perigo. Max encontra seu pai, mas agora precisa decidir se vai acompanhá-lo ou ajudar a salvar a cidade.

>> Os mosconautas no mundo da Lua (Bélgica, 2008, 85 min)
Pré-estréia especial: sessão com dublagem ao vivo
Direção: Ben Stassen
Recomendação etária: a partir de 4 anos
Sinopse: Em 1969, Nat, I.Q. e Scooter, três jovens e curiosas mosquinhas, estão em busca de novas aventuras e acabam entrando para a história quando embarcam na lendária viagem da nave Apollo 11 para a Lua. Uma animação em 3-D que promete conectar uma nova geração de crianças e seus pais por meio da exploração espacial e de um dos momentos mais importantes da História da Humanidade, experimentado em sua grandiosidade através de efeitos especiais de última geração.

O CINEMA FALA VÁRIAS LÍNGUAS – SESSÕES COM DUBLAGEM AO VIVO
>> Leo, o imperador da selva (Japão, 1997, 99 min)
Direção: Yoshio Takeuchi
Recomendação etária: a partir de 6 anos
Sinopse: Rune, filhote do rei da floresta, fascina do com uma caixa de música, quer conhecer os humanos que a fizeram. Mal sabe ele que os homens chegarão à procura da Pedra da Lua, trazendo devastação. O rei Leo vai ter que lutar para proteger a vida na selva.

>> Píppi Meialonga nos Mares do Sul (Suécia, 1970, 92 min)
Direção: Olle Hellbom
Recomendação etária: a partir de 4 anos
Sinopse: Com seus cabelos ruivos, rosto sardento e uma força descomunal, Píppi Meialonga é uma menina "impossível". Na terceira aventura da série de filmes, ela vai visitar seu pai, o ex-pirata Efraim Meialonga, para tentar libertá-lo das mãos dos piratas.

>> Knetter (Holanda, 2005, 83 min)
Direção: Martin Koolhoven
Recomendação etária: a partir de 8 anos
Sinopse: Bonnie tem 9 anos, vive com a mãe e a avó. Lis é uma mãe diferente, às vezes muito alegre, mas a maior parte do tempo triste. A avó resolve os problemas, mas um acidente a tira da família. Lis acha que um bicho de estimação resolverá tudo e traz para casa um animal especial.

>> Olsen Gang e o submarino (Noruega, 2003, 95 min)
Direção: Arne Lindtner Næss
Recomendação etária: a partir de 8 anos
Sinopse: Um dia, Egon está num orfanato, no outro é adotado por um ricaço. Tudo estava ótimo até ele descobrir que faz parte de um plano para conseguir diamantes do cofre de um submarino naufragado na 2.ª Guerra. A Olsen Gang tentará vencer os golpistas.

>> Eu e Max Minsky (Alemanha, 2006, 99 min)
Direção: Anna JusticeRecomendação: a partir de 12 anos
Sinopse: Nelly tem 13 anos e sonha com o príncipe de Luxemburgo. Quando o time da escola vai participar de um campeonato de basquete neste país, a menina, para aprender o esporte, faz um trato com Max Minsky, bom de bola e ruim de escola.

SESSÃO CLÁSSICO BRASIL
>> Pluft, o Fantasminha (Brasil, 1962, 95 min)
Direção: Romain Lesage
Recomendação etária: a partir de 4 anos
Sinopse: O fantasminha Pluft precisa da ajuda da menina Maribel para enfrentar o pirata Perna-de-Pau, que quer ficar com o tesouro da ilha Deserta. Mas para vencer o pirata, primeiro os dois terão que vencer o medo que sentem um do outro.

>> Roberto Carlos em ritmo de aventura (Brasil, 1968, 99 min)
Direção: Roberto Fariasutos
Recomendação etária: a partir de 6 anos
Sinopse: Roberto Carlos, o Rei da Jovem Guarda, é perseguido por bandidos internacionais, dá um passeio por Nova York, volta de foguete e cai de pára-quedas num campo militar onde tem uma batalha sensacional, entre outras superaventuras.

MOSTRA DISNEY-PIXAR
>> Vida de Inseto (EUA, 1998, 95 min)
Direção: John Lasseter e Andrew Stanton
Recomendação etária: A partir de 4 anos
Sinopse: Flik é uma formiga cheia de idéias para defender sua colônia de um faminto bando de gafanhotos. Quando descobrem que o exército é, na verdade, um fracassado grupo de atores de um circo de pulgas, o cenário está armado para divertidas confusões.

>> Monstros S/A (EUA, 2001, 92 min)
Direção: Peter Docter, David Silverman e Lee Unkrich
Recomendação etária: A partir de 4 anos
Sinopse: A Monstros S/A é a maior fábrica de processamento de gritos de Monstrópolis. É que a principal fonte de energia do mundo dos monstros provém da coleta dos gritos das crianças humanas. Mas os monstros acreditam que ela são tóxicas e, quando uma menininha invade o mundo deles, começa a maior confusão.

>> Toy story (EUA, 1995, 81 min)
Direção: John Lasseter
Recomendação etária: A partir de 4 anos
Sinopse: Buzz Lightyear, o novo e sofisticado astronauta de brinquedo do garoto Andy (foto acima), encontra um rival, Woody — o "brinquedo número 1" do menino até então. Porém, quando caem nas garras de um vizinho destruidor de brinquedos, precisam se unir para escapar do perigo.

...E SE VOCÊ AINDA NÃO VIU...
>
> A família do futuro (em 3-D) (EUA, 2007, 102 min)
Direção: Steve Anderson
Recomendação etária: a partir de 8 anos
Sinopse: Lewis é um menino brilhante, que inventa o Memory Scanner, uma máquina que o ajudará a encontrar sua mãe biológica. Porém a máquina é roubada e ele contará com a ajuda do jovem Wilbur Robinson, que o transporta em uma máquina do tempo.

CURTAS BRASILEIROS - Prêmio Brasil de Cinema Infantil
>> Ícarus (Brasil, 2007, 11 min)
Direção: Victor Hugo Borges
Recomendação etária: a partir de 6 anos
Sinopse: Este curta-metragem de animação em 3-D, tem visual baseado em contos infantis. Mostra Ícarus, um garoto de 4 anos que vive numa grande cidade e se sente só, pois seus pais trabalham muito.

>> Jardim das Cores (Brasil, 2008, 8 min)
Direção: Guilherme Reis
Recomendação etária: a partir de 5 anos
Sinopse: Uma brincadeira de lápis e papel.

>> Mãos de vento e olhos de dentro (Brasil, 2008, 13 min)
Direção: Susanna Lira
Recomendação etária: a partir de 4 anos
O filme é um ensaio sensível sobre crianças com deficiência visual e narra com muita poesia e lirismo a história da amizade entre Lia (Júlia Matos), uma menina cega, e Tico (Pablo Rocha), um menino solitário e cheio de imaginação.

>> O jumento do Lua-Estrela (Brasil, 2007, 16 min)
Direção: Wildes Sampaio
Recomendação etária: a partir de 4 anos
Sinopse: Lua-Estrela é fã de Luí­s Gonzaga. No seu aniversário, decepciona-se com os pais quando ganha um jumento de presente, ao invés da sonhada sanfona. Ele resolve sair mundo afora com o animal, mas descobre que este fala com a voz inconfundível de seu ídolo.

>> Pajerama (Brasil, 2008, 9min)
Direção: Leonardo Cadaval
Recomendação etária: a partir de 5 anos
Sinopse: Um pequeno í­ndio começa a ter experiências estranhas em seu habitat, que vão acabar lhe revelando mistérios do tempo e do espaço.

>> Pipo Pipa (Brasil, 2007, 5 min)
Direção: Sheila Neumayr e Marconi Loures
Recomendação etária: a partir de 2 anos
Sinopse: Em um dia de pouco vento Pipo, um simpático filhote de lagartixa, percebe que não será exatamente fácil empinar uma pipa. Uma animação singela, que mostra que um problema é, às vezes, apenas uma questão de perspectiva.

>> Rua das Tulipas (Brasil, 2007, 10 min)
Direção: Alê Camargo
Recomendação etária: a partir de 6 anos
Sinopse: Um grande inventor, acostumado a criar soluções para todo os moradores de sua rua, a Rua das Tulipas, após ver a felicidade de todos seus vizinhos descobre que ainda faltava a felicidade de uma pessoa...

SESSÃO IGUINHO
>
> As aventuras de Gui e Estopa (Brasil, 2008, 72 min)
Direção: Mariana Caltabiano
Recomendação etária: a partir de 6 anos
Sinopse: Dois cães decidem fazer uma série de animação. Estes dois personagens mostram como é feito um desenho animado, desde o roteiro até o lançamento nas salas de cinema. O público poderá ainda conferir os curtas “criados” por essa atrapalhada dupla.

ATIVIDADES PARALELAS
>> Oficina de cinema de animação
Com muita diversão, as crianças juntam conhecimentos artísticos e técnicas de animação. Dois núcleos funcionam simultaneamente: o núcleo de Sensibilização com equipamentos ópticos coloca o público infantil em contato com os primórdios do cinema e o núcleo de Videografismo possibilita a participação no processo de animação no computador.

>> O pequeno jornalista
Nestas sessões inclui-se a presença de jornalistas que, depois do filme, conversam com as crianças sobre como é fazer uma entrevista, uma matéria ou uma crítica de cinema revelando os bastidores da profissão em uma divertida palestra e a partir daí as crianças escrevem sua própria crítica do filme.

>> Sessões com dublagem ao vivo
Na sexta edição do Festival Internacional de Cinema Infantil o cinema fala várias línguas, com uma seleção de filmes de diversas nacionalidades, apresentados em sessões com dublagem ao vivo, onde dois dubladores fazem as vozes dos personagens enquanto o filme é exibido. Nestas exibições, as crianças terão a oportunidade de ouvir tanto a língua original na qual o filme foi realizado como a língua portuguesa.

>> Prêmio Brasil de Cinema Infantil
A partir desta edição fica instituído o Prêmio Brasil de Cinema Infantil, iniciativa que pretende destacar e difundir produções cinematográficas nacionais voltadas ao público infantil. Os curtas selecionados por Cacá Mourthé, Karen Acioly e Andrés Lieban serão exibidos no 6.º FICI, na sala digital. O curta-metragem premiado receberá prêmio no valor de R$ 5.000 em serviços da Labocine Grupo de Cinema.

ASSISTA NOS CINEMAS: Rio de Janeiro
>> Cinemark Downtown
Av. das Américas, 500 - Bloco 17 - 2.º piso - Barra da Tijuca - Rio de Janeiro/RJ
Sessões às 10h30, 11h, 11h30, 12h30, 13h, 13h30, 14h30, 15h, 15h30, 16h30, 17h30, 18h30

>> Cinemark Botafogo
Praia de Botafogo, 400 - Arco 800 - Botafogo - Rio de Janeiro/RJ
)Sessões às 11h30, 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 16h30, 18h30

>> Cinemark Carioca Shopping
Estrada Vicente de Carvalho, 909 - 2.o Pavimento - Vila Kosmos - Rio de Janeiro/RJ
Sessões às 11h, 11h30, 12h30, 13h, 13h30, 14h30, 15h, 15h30, 16h30, 17h30, 18h30

ASSISTA NOS CINEMAS - Niterói
>> Cinemark Plaza
Shopping Niterói - R. XV de Novembro, 8 - Loja 333 - Centro - Niterói/RJ
Sessões às 11h30, 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 16h30, 18h30


PERFIL DO EVENTO
O 6.º Festival Internacional de Cinema Infantil é dirigido por Carla Camurati e Carla Esmeralda e realizado pela Copacabana Filmes e Produções, pela Esmeralda Produções Artísticas e pela Espaço Z Marketing de Entretenimento, com o patrocínio das empresas Oi, Light, Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Terna e Rede Cinemark. O FICI tem apoio institucional do Governo Federal, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura n.° 1.954, da Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura n.° 1940/92 e da Prefeitura da Cidade de São Paulo, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura n.° 10.923/90, com o apoio da Oi Futuro, Editora Gráficos Burti, a parceria do Espaço Z Marketing de entretenimento, e a promoção da Globo Filmes. O FICI tece agradecimentos especiais à Quip, Embaixada da Suécia, Consulado Geral da Suécia no Rio de Janeiro, Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro, Consulado Geral dos Países Baixos no Rio de Janeiro e Instituto Goethe Rio de Janeiro.


A Rede Cinemark no Brasil
Precursora e especializada no conceito multiplex no País, a Rede Cinemark chegou ao Brasil em 1997 e está presente hoje no Distrito Federal e em 13 estados: Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, São Paulo, Sergipe, Goiás, Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia e Amazonas. Atualmente, conta com 377 salas divididas em 46 complexos. Em junho de 2008, um novo complexo foi inaugurado em São Paulo, no Shopping Cidade Jardim. Até o final do ano, mais dois serão abertos: um em São Paulo (Pátio Paulista) e um em Porto Alegre (Barra Shopping Sul). É da Rede Cinemark a primeira sala de cinema em 3-D da América do Sul, no Shopping Eldorado, em São Paulo, que segue o padrão exigido pelos grandes estúdios americanos. Atualmente, a Rede conta com mais três salas 3-D: no complexo do Shopping Downtown, no Rio de Janeiro, no Floripa Shopping, em Florianópolis e no Market Place , em São Paulo.


16 agosto 2008

HORA H 2008

A hora é agora


Com muita seriedade e propriedade já se dizia, por volta de 1972-1976, no âmbito da "Santíssima Trindade" -- agremiação informal surgida no Colégio Objetivo que abrigou poetas como Claude Sachs e Juvenal de Sousa Neto -- que "Está na hora/ De devorar a demora/ Que no esperar/ Devora o agora", uma pérola juvenalesca a justificar as (bem-intencionadas) ursadas do Claude.

Exatamente: a "Hora H" de Haroldo, Haroldo de Campos, poeta, advogado, procurador e professor, tradutor e ensaísta, o homem que percorreu fantásticos campos entre os sons, imagens e símbolos das línguas e das linguagens, "o mais barroco dos concretistas", emerge e vem à tona.

Enquanto o relembramos, está a ocorrer um fantástico momento paulistano de celebração à poesia, à música e ao desfrute social das artes urbanas: trata-se do evento Homenagem a Haroldo de Campos, que ofereceu gratuitamente a seguinte programação de fim-de-semana em São Paulo:

Sábado, 16/08
16h: Palestra O leitor Haroldo de Campos, com Gênese Andrade
17h: Mesa-redonda: A obra poética de Haroldo de Campos, com Lucia Santaella, Leda Tenório da Motta e Antonio Vicente Pietroforte (mediação de Claudio Daniel)
19h: Coffee-break e exibição dos filmes de Júlio Bressane Galáxia Albina e Infernalário: logodédalo, Galáxia Dark
20h: Música e poesia grega, com Marcelo Tápia (voz), Daniel Tápia (violino) e Diego Lisboa (flauta)
20h40: Poemas de Haroldo de Campos (recital)
>> Abertura: Ivan de Campos, acompanhado por Alberto Marsicano (cítara) e Olavo Ito (okotô)
>> Leituras: Lenora de Barros, Horácio Costa, Frederico Barbosa, João Bandeira, Yun Jung Im e Arrigo Barnabé. Live performance com VJ Fábio Vietnica

Domingo, 17/08
15h: Depoimento de colaboradores de Haroldo de Campos: Boris Schnaiderman e Jacó Guinsburg (mediação de Frederico Barbosa)
16h: Mesa-redonda: Transcriação: a teoria e a obra tradutória de Haroldo de Campos, com Aurora Bernardini, Marcelo Tápia e Trajano Vieira (mediação de Claudio Daniel)
18h: Coffee-break
18h30: Apresentações musicais: Cid Campos, Péricles Cavalcanti, Edvaldo Santana e a Marsicano Sitar Experience. Live performance com VJ Fábio Vietnica

LOCAL: Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 - Bela Vista (próx. Estação Brigadeiro do Metro)
Tels.: (11) 3285-6986 / 3288-9447

Imagem: Sereia e sátiro, do alemão Ferdinand Leeke (1859-1923)


Sobre a Marsicano Sitar Experience
Discípulo do sitarist Ravi Shankar, o músico paulistano Alberto Marsicano, que se destacou pela execução de temas clássicos da Índia no Brasil, lançou o livro-CD A música clássica da Índia (Ed. Perspectiva, Col. Signos). Mais além, atenção: o sétimo CD de Marsicano é Sitar Hendrix, pela gravadora americana Sonic Wave, indicado ao 49th Grammy USA.

Ele toma como guião o fraseado original de Hendrix, que praticamente reinventou sozinho o som da guitarra elétrica, e se arrisca em território pantanoso com o álbum Sitar Hendrix. Conhecido mais em São Paulo, do círculo dos que cultivam a música indiana e a poesia (Marsicano é tradutor) às raves desde o fim dos anos 90, depois de experimentar projetos eletrônicos o citarista propõe este trio reunindo sitar, baixo e bateria para retranscriar Jimi Hendrix.

Eles perpetram tanto músicas que ficaram famosas com o grupo Experience, tipo as da fase exploratória de Band of gypsys, como versões de clássicos tipo Purple haze, Fire, Spanish castle magic e Little wing, e ainda flertam com canções de alta octanagem psicodélica como Voodoo child, Machine gun e Third stone from the Sun.

VEJA E OUÇA MAIS
http://br.youtube.com/results?search_query=marsicano+sitar


Fantástica homenagem
Na esfera dramático-experimental, o evento na Casa das Rosas traz ainda Julio Bressane e Haroldo de Campos (foto) como videomakers, produzindo juntos Galáxia Albina (1990) e Infernalário: logodédalo, Galáxia Dark (1992). A chance de apreciar estes vídeos está nesta homenagem. Galáxia Albina, com Bete Coelho, Giulia Gam e Tânia Nomura inicia uma trilogia que transpõe uma solitária viagem de palavras e de papel para imagens sonorizadas em VHS.

A segunda parte desta trilogia galáctica, Infernalário: Logodédalo, Galáxia Dark, com Bete Coelho e Mariana de Moraes, apoia-se numa estética dark que retira da obra de Campos sua “matéria-escura” para combiná-la às imagens rarefeitas do cineasta e às marcações marionetizadas das atrizes: lusco-fusco mítico, cênico e interpretativo. Nessa galáxia negra, é perceptível o mundo lido pelo taoísmo chinês: a multiplicidade é concebida como manifestação da Unidade, que, por sua vez, é gerada pelo Vazio -- um vazio impenetrável ao raciocínio, mas paradoxalmente pleno de virtualidades.

O universo primordial era pura energia. A partir daí, desenharam-se cenários mais e mais complexos das dramáticas transformações do cosmos em sua estruturação material. A criação das "Galáxias" segue, por analogia, o "modelo inflacionário" do "Big Bang" e a "estética do excesso" que representa a arte finissecular do final do século XX e do início deste. Da palavra primordial a gerar escritura, aos cantos/galáxias que se expandem e proliferam, esta obra de Haroldo não reluta em transpassar linguagens, mídias, fronteiras: um Universo em expansão.

(por Antonio-Manoel Nunes, doutor em Literatura Comparada/UFRJ)

Horários de Funcionamento da Casa das Rosas
Terça a sexta, das 10h às 22h e sábados e domingos, das 10h às 18h


DELEITE ÚTIL
www.casadasrosas.sp.gov.br

www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp125.asp

05 agosto 2008

FRANCINE EM PESSOA

Ponto de Encontro


Nesta sexta-feira, às 20 horas, a cantora e atriz Francine Lobo interpreta canções compostas a partir de poemas de Fernando Pessoa e musicadas por figuras da MPB como Dori Caymmi, Sueli Costa, Renato Motha e Patrícia Lobato, entre outros.

O show conta também com a participação de Jardel Caetano (violão), Webster Santos (cordas) e Roberto Otsu (comentários sobre o poeta).

Os apreciadores da boa música e da obra literária de Fernando Pessoa certamente irão deliciar-se com o espetáculo, conferindo o carisma da emergente cantora e a evolução de seu trabalho.

Francine -- que às vezes também se apresenta com sua filha, a pequena Laura Lobo, que participou da microssérie global Hoje é dia de Maria --, é cantora, violonista e atriz desde os 15 anos.

Ela integrou o Corpo Estável do Coral Sinfônico do Estado de São Paulo e apresentou-se com orquestras de peso como integrante do Coral Sinfônico do Estado de São Paulo (Prêmio Carlos Gomes de Melhor Coral de 1999), a exemplo da OSESP, Jazz Sinfônica, Banda Sinfônica e Orquestra Experimental de Repertório.

Em algumas ocasiões, Francine Lobo cantou em conjunto com outros corais -- como o Men's Gle Club-Coral Masculino da Universidade de Michigan. Também atuou no teatro com O Fantasma da Ópera, (Teatro Abril), A Lenda do Quebra-Nozes (dirigida por Telma Dias e Robson Vellado), A Bela e a Fera (Teatro Abril), Brasil 500 Anos, E o mundo não se acabou! (sob a direção de Kleber Montanheiro), além de haver participado de diversos shows e CDs.

A cantora faz ainda gravações de jingles e locuções e ministra aulas de Canto e Técnica Vocal para cantores e outros profissionais da voz, bem como promove a sensibilização musical para crianças.


VÁ CONFERIR
O Ponto de Encontro com Francine Lobo,
no espetáculo musical “Que PESSOA esse FERNANDO!”
Data e hora: 08 de agosto às 20 horas
Convite: R$ 15 (antecipe sua reserva)
Local: Arjuna Livraria e Espaço
Rua Simão Álvares, 923 - Vila Madalena
Tel.: (11) 3815-8026
www.livrariaarjuna.com.br

SAIBA & OUÇA MAIS
www.samba-choro.com.br/artistas/francinelobo

24 julho 2008

ÉS O QUE COMES, ZÉ!

Propaganda sugere má alimentação



Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB) constatou que 72% das propagandas de alimentos veiculam mensagens para o consumo de produtos que fazem mal à saúde. A maioria desses produtos contém altos teores de gordura, açúcar e sal.

As cinco categorias mais veiculadas de produtos que afetam a saúde são 1) os fast-food; 2) guloseimas e sorvetes; 3) refrigerantes e sucos artificiais; 4) salgadinhos de pacote; 5) biscoitos e bolos. Estes alimentos contribuem para o aumento de doenças crônicas — como obesidade, hipertensão e diabetes.

A pesquisa revelou ainda que, entre canais de televisão abertos e fechados, 44% do total das propagandas de alimentos são direcionados para a persuasão das crianças. Abaixo, em entrevista concedida à Radioagência Notícias do Planalto, o presidente da ABJC-Associação Brasileira de Jornalismo Científico, Wilson Bueno, afirma que seria necessário haver uma restrição a essas propagandas, já que as publicidades que utilizam o depoimento (testemunho) de artistas induzem as crianças a um consumo não saudável.

Radioagência NP: Como você avalia as propagandas sobre alimentos no Brasil?
Wilson Bueno: Temos um problema sério. A propaganda de alimentos, sobretudo aquela voltada para o público infantil, tem realmente um efeito danoso. Não adianta as indústrias e muitas vezes as agências negarem. Falar que as crianças e as pessoas têm condições, elas próprias, de decidir o que é bom ou é ruim. Ou que não há esse tipo de influência, no sentido de conduzir a uma má nutrição, obesidade, aumento de colesterol, porque a propaganda é feita e é paga para funcionar. E se ela funciona, o efeito que causa é o de conduzir as pessoas, em particular as crianças, para a péssima alimentação.

RNP: As propagandas devem sofrer restrições?
WB: Sim. Deve haver restrições, como no caso do tabaco. Devem existir restrições às bebidas e às propagandas de medicamentos em geral. Não dá para acreditar na auto-regulação. Não devemos deixar esse tipo de coisa nas mãos das entidades que representam as empresas — as agências e os anunciantes — porque certamente eles trabalharão em causa própria.

RNP: Existem políticas públicas voltadas para uma boa alimentação? O que pode ser feito?
WB: Não, mas existem as pesquisas e um trabalho que está sendo muito condenado, mas na maior parte das vezes é bem feito é o da ANVISA-Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no sentido de indicar, sobretudo, para a propaganda de alimentos, de bebidas e de medicamentos, abusos inaceitáveis que influenciam a postura e comportamentos dos cidadãos. Institutos como o IDEC-Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e o Instituto Ethos poderiam trabalhar, de maneira que não seja truculenta, formas de discutir e restringir tais práticas. Não é possível deixar celebridades e artistas de televisão, em programas de horário infantil, induzirem as crianças ao consumo não saudável.

RNP: Como você avalia os hábitos alimentares do brasileiro?
WB: Muito ruins. Certamente não só influenciados pela propaganda, mas por uma educação que não contempla esse tipo de informação nas escolas. Há o problema da falta de vigilância nas escolas em relação ao uso de produtos não saudáveis, como por exemplo nas cantinas. E há um papel não-assumido de maneira adequada pela escola, pela família e pela sociedade como um todo.

RNP: É saudável o consumo de alimentos transgênicos?
WB: Devemos ter precaução. Devemos exigir rotulagem dos transgênicos. Tenho o direito de escolha de consumir ou não o transgênico. Esse direito não pode ser negado. Há esforço e um lobby poderoso de empresas de biotecnologia, no sentido de fazer com que a gente substitua culturas tradicionais que são importantes, sobretudo no caso do Brasil. Essa mudança para os transgênicos nos leva a uma perigosa dependência tecnológica, no caso específico das sementes de soja ou de algodão. Acho que falta discussão e observação de pesquisas que mostram os impactos ambientais e os problemas que esses produtos trazem para a saúde humana. Devemos ficar atentos, porque há interesses econômicos.

*por Desirèe Luíse, da Radioagência NP em São Paulo/SP


AGROECOLOGIA VERSUS ALTA DE PREÇOS DOS ALIMENTOS
Paralelamente a estas preocupações, integrantes de movimentos sociais brasileiros e representantes de países latinos estão reunidos desde quarta-feira (23 de julho), para debater formas alternativas para a produção de alimentos.

A VII Jornada de Agroecologia acontece em Cascavel, interior do Paraná, discutindo a reforma agrária, a alta do preço dos alimentos e a viabilidade de outros modelos de agricultura para produção de alimentos sem agrotóxicos e sem uso de sementes transgênicas — geneticamente modificadas. Durante o encontro, os camponeses irão trocar experiências bem-sucedidas de produção agroecológica.

Segundo o coordenador da Via Campesina — entidade que reúne movimentos do campo sediados nos quatro continentes — José Maria Tardin, as discussões ao redor da Agroecologia são importantes não só pela questão essencial da produção de alimentos saudáveis, mas também pela autonomia tecnológica que estas práticas podem gerar. “Essa autonomia tecnológica significa uma ruptura total da relação do camponês com a indústria da agricultura, porque sua base é organizar na produção os processos ecológicos da vida, o que se dá de forma totalmente desvinculada dos atuais processos industriais.”

Tardin afirma ainda que esta ruptura é um fator essencial atualmente, diante da crise gerada pela alta no preço dos alimentos. Na verdade, a crise está relacionada com a produção e distribuição de alimentos que são controladas por empresas transnacionais. Nesse contexto, a agricultura camponesa ainda é responsável por 70% dos alimentos que são consumidos pela população brasileira.

O coordenador da Via Campesina avalia que, como resultado desejável, a VII Jornada deverá pautar a reivindicação de políticas governamentais visando desvincular a distribuição destes alimentos do domínio das grandes empresas.

*por Juliano Domingues, da Radioagência NP em São Paulo/SP


SAIBA MAIS
www.radioagencianp.com.br

www.coopenbh.com.br/projetos%20pedagogicos%20-%202007/alimentacao_saudavel.htm

www.viacampesina.org

http://pt.wikipedia.org/wiki/Via_Campesina

23 julho 2008

ENTRONCAMENTO DE MÍDIAS

Cartografia Web Literária



O SESC-Serviço Social do Comércio e o Portal de Literatura e Arte Cronópios põem em discussão as revistas eletrônicas e os rumos da Literatura face ao advento da Web.

O evento contará com debates e performances multimídia e será transmitido em tempo real pela Internet. O Portal Cronópios disponibilizará também um chat para que os interessados enviem suas perguntas ao mediador de cada mesa-redonda, também em tempo real.

Na programação, constam:

12/agosto (terça-feira), 19h
As zonas de exclusão do mercado literário e o papel da Internet
com Heloísa Buarque de Holanda * Fabrício Carpinejar * Carlos Emílio Corrêa Lima * Vicente Franz Cecim * Raimundo Carrero
Moderador: Edson Cruz (Portal Cronópios)
(leitura de textos inéditos com os escritores)

13/agosto (quarta-feira), 19h
Publicação e distribuição da literatura em tempos digitais
com Clara Averbuck * Ana Paula Maia * Cardoso (André Czarnobai) * Artur Rogério * Lima Trindade Moderador: Fabrício Carpinejar
(Leitura de textos e discotecagem com DJ Malásia)

14/agosto (quinta-feira), 19h
Interfaces da literatura na Web
com André Vallias * Pipol * Mardônio França * Fábio Oliveira Nunes
Moderador: Lúcio Agra
(Apresentação de André Vallias com vídeo-poema intermeado por traduções de obras de Hölderlin, Khlèbnikov, Gottfried Benn, Mandelstam e Trakl, entre outros)

15/agosto (sexta-feira), 19h
Apreciação/crítica dos conteúdos de literatura veiculados na Internet
com Ivan Marques * Paulo Franchetti * Márcio-André * Linaldo Guedes * Floriano Martins
Moderador: Leda Tenório da Motta
(Márcio-André apresenta uma roldana de palavras -poesia-máquina de desautomatizar munido de vozes, violino e outros objetos sonoros)

16/agosto (sábado), 15h
Sarau Cartográfico
com a participação de autores, blogueiros, editores de sites de literatura, poetas, performers, DJ e convidados do evento. Leituras de textos e apresentações de performances literárias
(Especial: performance de Lúcio Agra)


VÁ LÁ
SESC Consolação
Rua Dr. Vilanova, 245 - Vila Buarque - São Paulo/SP
Tels.: 3234-3000 / 3256-2281 / 0800-11-8220
www.sescsp.org.br

ACOMPANHE PELA TV CRONÓPIOS
www.cronopios.com.br

A seguir, trecho escrito pelo poeta Márcio-André — da revista bimestral de arte e literatura Confraria — que integra o texto Por que expulsar de vez o poeta (disponível na íntegra no Portal Cronópios):

"O poeta nunca deve ser maior que a poesia que escreve. Deve sumir diante dela e restar na ordinária condição de indivíduo — aquele que vai à padaria, que assiste filme ruim na Tela Quente, que nunca foi o preferido da professora, que não ostenta essa ou aquela condição, que não é melhor ou pior em relação a qualquer outro —de tal forma que falar de aspectos de sua vida não venha a ser mais importante que a poesia contida nela.

"Em verdade, já não haverá diferença entre vida e poesia, ao contrário dos exemplos citados no início do ensaio, onde a poesia não passa de um recurso retórico tendo em vista a canonização do autor — não é a vida que se impõe à poesia, mas a poesia que gera a própria possibilidade da vida.

"O poeta deve ser, consequentemente, aquele que se interessa pelas pessoas, poderosas ou não, que se ocupa de todo aquele que não tenha nada a lhe oferecer. Somente assim, lutando em pensamento e ação por uma ética da escrita, a poesia poderá ser, como já foi na Antiguidade e, em casos muito recentes, a arma mais incisiva e poderosa contra as incoerências da realidade.

"Ser ético é, portanto, escapar ao próprio ego e engajar-se na quântica das palavras. Essa é a dimensão da qual o poeta não pode abrir mão. Se ele for complacente com o sistema, quem mais deixará de ser? Somente sua simplicidade e renúncia o podem redimir, muito além das ilusões criadas para suportar sua real insignificância social.

"O cinismo só se torna válido quando duvidamos de nós mesmos. O artista que tem medo de duvidar, seja de si, seja do mundo que o aceita, tem medo de deixar de ser como é, pois ainda se admira como o sujeito de uma realidade objetivadamente imutável, e não como centelha de um universo mutável. Este ainda não está pronto para a caminhada. Sua viagem se limita em ir até a esquina e voltar."

18 julho 2008

TEMPO E ENERGIA

Descubra o seu talento!



Todos nós fomos dotados de dons especiais — chamados “talentos” — que, se adequadamente desenvolvidos, podem representar a diferença entre o sucesso e o fracasso na vida profissional e pessoal. No entanto, grande parte dos profissionais não sabe o que fazer de suas potencialidades e o que seria uma marca registrada de seu talento pode desaparecer no tempo, se não for exercitada adequadamente.

Para que você possa alcançar patamares mais elevados de realização e ação em sua vida profissional e pessoal, preparamos algumas questões capazes de lhe proporcionar um exercício valioso de reflexão rumo ao sucesso. São as seguintes:

a) PENSE DIFERENTE – O mundo está cada vez mais igual. Repare nas características dos bens de consumo do varejo e verá que a diferença, hoje, é mínima. Estamos na era da “commoditização”, ou seja, a praticidade e a evolução de produtos e marcas alcançaram patamares onde a diferença é quase nenhuma entre eles. O que sobra, então, para você? Diferenciar-se pelo pensamento criativo ou, expressando-me melhor, fazer algo realmente diferente.

Se isto for muito difícil para você, vale fazer algo comum de forma diferente. Olhe ao seu redor e enumere, pelo menos, cinco atividades que você poderia estar fazendo de forma inusitada, tornando-as mais eficientes, econômicas e prazerosas. Certamente você vai resistir, no início, achando que é difícil ou mesmo impossível descobrir novos usos/utilidades para as suas tarefas, mas, aos poucos, vai encontrar situações onde a realidade posta começará a se transformar e, com determinação, esta terceira via começará a se tornar a solução ideal;

b) LANCE NOVAS IDÉIAS – Uma vez constatado que a sua idéia é autêntica, selecione e envolva as pessoas certas para a divulgação, formalização e implantação da mesma. Muitas idéias que poderiam revolucionar processos se perdem pela simples falta de alguém que possa capitalizar as novas idéias geradas, provocando desperdícios diários nas empresas.

Quem não já ouviu a frase “a idéia é boa, mas depois a gente conversa sobre este assunto”? Neste caso e em muitos outros, não deixe a burocracia, o pessimismo e a falta de ânimo de outrem sufocarem o seu talento. Se você for autônomo(a), garanta os recursos para concretizar um produto ou prestar um serviço da melhor forma possível, sem abandonar sua idéia;

c) JULGUE-SE UM TALENTO – Se você não tinha pensado antes nisso, acredite seriamente! A auto-análise positiva é o primeiro passo para realizarmos algo diferenciado e novo em nossas vidas. Esta nova percepção nos alimenta e "energiza" para grandes realizações futuras;

d) ENVOLVIMENTO EMOCIONAL – Só vamos realizar algo realmente diferente se nos envolvermos “de corpo e alma” nos projetos, trabalho e causa que abraçarmos. A ambição somente pelo dinheiro não é suficiente para perenizar o sucesso. Portanto, comprometa-se incansavelmente pelas coisas em que acredita e verá que o seu talento florescerá naturalmente;

e) INVISTA EM SI MESMO(A) – Antes de você descobrir qualquer coisa, primeiro descubra-se. Eleve seus pontos fortes e trabalhe aquelas características em que você não está tão bem, se comparado(a) a outro(a)s profissionais do mesmo nível que você. Agindo desta forma e trabalhando um plano de ação coerente e consistente, os pontos fracos serão amenizados e novas forças e armas vitais capazes de agregar valor ao seu talento lhe serão acrescidas.

*o colunista Luís Antonio Rabelo Cunha é Mestre em Administração de Recursos Humanos, consultor e professor universitário, administrador de empresas, diretor da FAMETRO-Faculdade Metropolitana de Fortaleza/CE e presidente da RECENS-Rede Católica de Ensino Superior
luisrabelo@terra.com.br

*imagem e outras info pertinentes no blog de Paulo Alves (Porto, Portugal) http://carambasproblog.wordpress.com/2008/04/11/receita-para-o-regresso-ao-trabalho

09 julho 2008

NA OMELETE QUEBRAM-SE OVOS

O supermercado é político


Falar que o “supermercado é político” é dizer que o mais privado dos atos — o de buscar alimento e garantir necessidades primárias — não se encerra na hora de pagar a conta. A escolha do produto até pode dar-se por razões econômicas, busca de qualidade ou, ainda, ideologia.

Contudo, ao escolher um produto também se escolhe, querendo ou não, uma forma de produção, um tipo de relação de trabalho, um determinado impacto ambiental.

Em suma, comprar algo é trazer para casa, além do produto, a sua cadeia de fabricação e as conseqüências. Ignorar esses fatores é se proteger de duas conseqüências do conhecimento: liberdade e responsabilidade.

Dados de recentes pesquisas demonstraram que produtos orgânicos possuem mais nutrientes que os alimentos da produção linear. Ou seja, não é apenas uma questão de quantidade, mas de qualidade. Pode até ser que a agricultura orgânica não produza tanto quanto a linear, mas alimenta mais.

O artigo Comparação da qualidade nutricional de frutas, hortaliças e grãos orgânicos e convencionais, publicado no Jornal de Medicina Alternativa, relata que produtos orgânicos contêm, em média, 29,3% mais magnésio, 27% mais vitamina C, 21% mais ferro, 26% mais cálcio, 11% mais cobre, 42% mais manganês, 9% mais potássio e 15% menos nitratos.

Indo mais além, conforme relatório do Environmental Group, atualmente, ao completar um ano de vida uma criança já recebeu, por conta do consumo de alimentos convencionais, a dosagem máxima aceitável pela OMS-Organização Mundial de Saúde de oito pesticidas altamente carcinogênicos para uma vida inteira.

Para além das questões nutricionais, alimentos orgânicos e de agricultura familiar contribuem para a empregabilidade no campo. O que evita o êxodo rural, e, por conseqüência, o aumento de favelas em centros urbanos.Um outro dado importante é que quem produz alimento para o brasileiro não é a produção convencional ou linear ou o agronegócio, mas a agricultura familiar e orgânica.

Mais da metade do feijão vem da produção familiar. No caso do arroz, mais de um terço e, da mandioca, 90%. Estas são algumas informações que demonstram a importância do setor na economia brasileira — um setor responsável por uma média de 10% do PIB-Produto Interno Bruto nacional, conforme dados da FIPE-Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. E, mais, o que realmente alimenta é a produção de grãos, vegetais e hortaliças.

A carne de suínos, aves e bovinos não é o alimento mais completo em nutrientes ou que vai estar na mesa de todos os brasileiros. O Brasil é campeão de exportações. E Santa Catarina orgulha-se dos seus números. No entanto, ao exportar a carne produzida por aqui também se exportam a água potável, os milhões de hectares utilizados para alimentar os animais, as florestas queimadas.

A única coisa que fica são os resíduos. A EPAGRI-Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S/A revela que as fezes dos 5,6 milhões de suínos que existem no Estado produzem 9,7 toneladas de dióxido de carbono por dia. Para 1 kg produzido de carne de suíno ou bovino, gera-se o equivalente a 8 kg de excremento. Imagine levar tudo isso para casa ao comprar um inocente pacotinho de presunto para o sanduíche?

Não levamos. Desde 2005, no Brasil, há mais bois e vacas que homens e mulheres: 200 milhões de bovinos ocupam um espaço três vezes maior do que toda a área cultivada no País e consomem quatro vezes mais água. Se for uma questão de aumento da riqueza nacional e de estratégia para matar a fome dos brasileiros, a nossa matemática não está bem certa.

Afinal, o agronegócio nem emprega tanta gente assim e os custos ambientais com a poluição de rios, solo, mananciais e emissão de metano são revertidos ou para o preço final do produto ou para o Estado, que terá mais gastos com saúde e políticas para despoluição. Aí, quem paga a conta somos todos nós, querendo ou não, sabendo ou não.

Foi-se o tempo em que comprar mandioquinha, feijão ou ovos era só comprar mandioquinha, feijão ou ovos. Quando se leva ovo para casa, o da produção convencional, se está chancelando, incentivando e financiando um processo que trata animais como coisas, que ignora que sentem dor e que possuem uma forma própria de viver a vida.

Além disso, este processo os faz viver de forma confinada, sendo alimentados com uma ração que contém tantos aditivos que os transforma mais em uma pasta química do que em seres vivos. Nem o peitinho de frango se salva.

Ir ao supermercado é, sim, fazer política. É fazer escolhas. É dizer que tipo de produção de alimentos queremos e que tipo de empregos queremos financiar. O ato de escolher e comprar o que se vai consumir pode ser silencioso, mas é muito poderoso.

*Samantha Buglione (foto) é jurista e professora de Teoria do Direito e Bioética. Coordena o CLADEM-Brasil (Comitê Latinoamericano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher)

SAIBA MAIS
www.cladem.org

VOVÓS METRALHA

Chapeuzinho Vermelho reloaded?


Pois é, a cada dia que passa e que vivo, cada vez mais me espanto com as coisas do Brasil. Leio recentemente pelos jornais que foi desarticulada uma bem-organizada quadrilha de vovós — todas de aparência tão inofensiva quanto um beija-flor, mas que eram, na verdade, um geriátrico bando de exímias meliantes. As espertas macróbias integravam uma gangue especializada em furtos a lojas, shoppings e igrejas dos nossos chamados "bairros nobres", agindo em Fortaleza e em capitais de outros Estados.

As velhinhas atacavam as incautas vítimas com uma perícia de veteranas profissionais. Pelo que se vê, apesar dos discursos ufanistas de nossos bem-intencionados governantes, nosso torrão natal transformou-se num paraíso de gatunos de todos os calibres, de todas as espécies, de todas as idades. Até as idosas estão abraçando (dedicadas com intimorato afinco) a carreira do crime, especializando-se em vários ramos da bandidagem — inclusive o lucrativo tráfico de drogas nacional e internacional.

Do jeito que marcha a carruagem, não duvido de que, em breve, teremos vovós pistoleiras profissionais. Em quem agora podemos confiar, ao caminharmos não mais despreocupadamente pelas ruas da cidade? E se alguma velhinha, de rostinho simpático, faces rosadas, andarzinho trôpego, me pedir para ajudá-la a atravessar uma rua?

Quem me garante que ela não me vai bater a carteira com a maestria de um um punguista peruano? De agora em diante, não se contará jamais a história da Chapeuzinho Vermelho, porque, sabe-se lá se o verdadeiro fato não foi um seqüestro de conluio com o lobo mau? E aquela velhinha ao seu lado no caixa-eletrônico, o que estará tramando contra você?

Tristes tempos vivemos no Brasil de hoje, em que se perdeu até a confiança nas vovós e a velhice nos mete medo como se fosse um pivete, um assaltante armado até os dentes, o sujeito que nos segue quando saímos de um banco com um minguado dinheirinho que significa a nossa sobrevivência.

Que desgraçado País é este, em que a simples visão de uma cabeça aureolada de cabelos brancos não nos impõe mais respeito e sim, um laivo de medo? Sim, as vovós-metralha estão à solta e eu, capiongo e gravebundo, me pergunto: o que virá depois?


*O médico psiquiatra e escritor cearense Airton Monte é um atento cronista de sua época. A imagem retrata The Beagle Family (a Família Metralha), da obra de Walt Disney